Florianópolis, 16 de janeiro de 2025. 16h52

Opinião: Prof.º Eduardo Borges

Fala Racista de Jorginho Mello Expõe a Hipocrisia do Governo Catarinense

Na última quarta-feira (15/01), o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), fez uma declaração que escancarou a mentalidade racista ainda presente nas elites políticas do estado. Durante a inauguração de uma subestação no Vale do Itajaí, o governador afirmou que Pomerode "se destaca pela cor da pele das pessoas". A cidade, conhecida por sua forte herança germânica, tem cerca de 80% da população branca, segundo o Censo de 2022.

A fala não foi um deslize ou um erro de comunicação. Foi um reflexo da ideologia excludente e elitista que permeia a gestão estadual. Ao exaltar a branquitude como um diferencial positivo, Jorginho reforça a falsa narrativa de que Santa Catarina é um estado homogêneo e desconsidera a diversidade racial que construiu essa terra.

Desigualdade Racial em Santa Catarina: Os Dados Não Mentem

Santa Catarina se destaca nacionalmente por seus bons indicadores sociais, mas isso não significa que seja um estado livre de desigualdades. Muito pelo contrário. Os dados do IBGE e de pesquisas sociais deixam claro que a população negra enfrenta barreiras muito mais duras do que a população branca:

📉 17,5% da população negra de SC vive em situação de pobreza, enquanto entre os brancos esse índice é de 8,9%.
🏡 A desigualdade patrimonial entre negros e brancos em SC é a maior do Brasil, evidenciando a concentração de riqueza e terras nas mãos de poucos.
💼 Trabalhadores negros ganham em média 30% menos do que brancos no estado, mesmo tendo a mesma qualificação.
📚 A evasão escolar é maior entre estudantes negros, que enfrentam maiores dificuldades de acesso à educação superior e ao mercado de trabalho.

Santa Catarina não só tem desigualdade racial, como está no topo das estatísticas que evidenciam essa exclusão. A fala do governador apenas reforça o que os números já mostram: o racismo estrutural está vivo e operando dentro das políticas públicas do estado.

O Impacto das Palavras: Racismo Não É Opinião, É Crime!

A declaração de Jorginho Mello não pode ser relativizada como um "mero comentário". Palavras vindas de figuras de poder têm consequências reais e ajudam a reforçar a exclusão de negros, indígenas e demais minorias no estado.

Santa Catarina já carrega uma herança histórica de apagamento das populações não brancas. Seja pela exaltação da colonização europeia como um "padrão de desenvolvimento", seja pela omissão de políticas públicas que reduzam desigualdades raciais, o estado sempre caminhou no sentido de manter seus privilégios para poucos.

O governador, em vez de reconhecer a pluralidade da população catarinense e agir para reduzir as desigualdades, escolheu celebrar a exclusão e reafirmar o racismo estrutural que já domina o estado.

Não há espaço para neutralidade diante de falas como essa. É preciso denunciar, reagir e cobrar mudanças concretas.

Lideranças Políticas Precisam Ser Responsabilizadas

Jorginho Mello precisa ser cobrado publicamente por sua declaração. Governar para um estado inteiro significa reconhecer e respeitar todas as pessoas que fazem parte dele, e não apenas uma parcela privilegiada da população.

A sociedade catarinense não pode permitir que falas como essa sejam normalizadas. O racismo não pode ser tratado como "opinião" ou "mero detalhe" dentro do debate público. É um problema estrutural que exclui, mata e perpetua injustiças.

Jorginho Mello não apenas ignorou a população negra de Santa Catarina – ele a rebaixou. E se não houver pressão e cobrança, ele continuará governando para poucos.

Santa Catarina é muito mais do que uma terra de descendentes de europeus. É um estado construído por mãos negras, indígenas e de trabalhadores de todas as origens. E esses trabalhadores merecem respeito, políticas públicas e um governo que não os apague.

Em um contexto de luta por equidade racial, declarações como a de Jorginho Mello contribuem para a naturalização da exclusão e marginalização de negros e indígenas. Lideranças políticas devem ser responsáveis por suas falas e promover políticas públicas que combatam as desigualdades históricas, ao invés de reforçá-las.

Racismo não é opinião, é crime!!!

Fontes:

📌 Ponte Jornalismo – "Governador de SC diz que cidade se destaca pela cor da pele"
📌 Clic RDC – "Série Especial: A desigualdade social no trabalho e renda de SC"
📌 WH3 Notícias – "Desigualdade patrimonial entre negros e brancos em SC é a maior do país"