Florianópolis, 1 de fevereiro de 2025. 10h30
Série: ACT em Foco — Capítulo II
Prof.º Eduardo Borges
Entre a Luta e o Cansaço: O Peso de Ser ACT em Santa Catarina
Para muitos professores ACTs de Santa Catarina, o sonho de lecionar se tornou um desafio constante de resistência. Enquanto lutam para garantir uma vaga a cada novo processo seletivo, também precisam lidar com um cotidiano marcado por sobrecarga, incertezas e desvalorização.
A rotina do professor ACT não se limita à sala de aula. Além das exigências pedagógicas, há um esforço contínuo para se manter no sistema: estudar incessantemente para provas, enfrentar deslocamentos, eventualmente sem auxílio financeiro e, muitas vezes, buscar trabalhos extras para complementar a renda. Há quem utilize o período de férias para outras atividades remuneradas, pois a segurança financeira não é um privilégio dos temporários.
O tratamento diferenciado dentro do ambiente escolar também é uma marca dessa precarização. Em algumas unidades, os ACTs são vistos como substitutos descartáveis, sem o mesmo reconhecimento dos efetivos. Há relatos de discriminação na sala dos professores, de sobrecarga imposta sem negociação e até de falta de apoio diante de problemas pessoais ou de saúde. Não raro, um ACT que precisa se ausentar por motivos médicos se vê em um dilema: cuidar da própria saúde ou preservar a possibilidade de seguir na profissão no ano seguinte.
A desorganização do sistema educacional catarinense também pesa sobre esses docentes. Não há uma padronização na carga horária, no ponto eletrônico, na duração dos intervalos ou nas regras de permanência na escola. Cada unidade segue diretrizes próprias, tornando a rotina do ACT ainda mais imprevisível, ainda que na teoria, as portarias e a própria legislação que regula a contratação do professor ACT devessem ser seguidas.
O descaso não é apenas administrativo. Muitos professores temporários se sentem esquecidos pelo próprio sindicato, que deveria lutar por condições mais dignas para a categoria. O sentimento de abandono e a dificuldade de mobilização coletiva contribuem para que a precarização permaneça como regra.
Enquanto isso, outros estados começam a avançar na busca por soluções. No Rio Grande do Sul, por exemplo, a prorrogação de contratos temporários permite maior estabilidade aos professores. Em Santa Catarina, a cada novo ano letivo, ACTs voltam à estaca zero. A falta de um plano de carreira real e a instabilidade constante tornam a permanência na educação uma escolha cada vez mais difícil.
A pergunta que muitos ACTs se fazem é: até quando suportaremos esse modelo injusto? Se nada mudar, a educação catarinense continuará perdendo talentos, sufocados por um sistema que insiste em ignorá-los.
Na próxima matéria, vamos aprofundar a comparação entre os modelos de contratação no Brasil e os impactos diretos na qualidade do ensino. Acompanhe, compartilhe e fortaleça essa discussão!