Florianópolis, 19 de julho de 2025. 9h30

Prof.º Eduardo Borges

A quem interessa o fracasso da escola pública? 

A matéria publicada pelo portal ND+ destaca que a escola pública de Santa Catarina mais bem colocada no Enem 2024 ficou fora das mil melhores do país. O dado choca à primeira vista — e, infelizmente, alimenta uma narrativa conhecida: a de que a escola pública "não funciona", que o professor "não dá conta" e que o ensino "é fraco".

Mas será mesmo esse o problema? Ou será que a pergunta correta é outra: a quem interessa o fracasso da escola pública?

Vivemos em um estado onde 71% dos professores da rede estadual são temporários e isso representa, segundo o MPSC, cerca 40 mil professores em sala. E desses, grande parte não permanece na mesma escola ano após ano. Como esperar que um estudante da rede estadual, ao final do Ensino Médio, chegue ao Enem com preparo sólido, se teve — ao longo de sua trajetória — uma sucessão de professores ACTs diferentes, um a cada ano, com realidades, didáticas e condições distintas de trabalho?

📌 Um estudante que cursou a mesma escola desde o 6º ano pode ter tido dez professores de matemática, quinze de geografia, cinco de português. Isso não é exagero — é a realidade. E essa rotatividade tem uma explicação: a precariedade imposta pelo Estado aos professores ACTs.

Professores que são desvalorizados, descartados, que enfrentam processos seletivos instáveis, caóticos, que nem sempre garantem retorno ao mesmo local de trabalho. Quando finalmente criam vínculo com a escola, com a comunidade e com os alunos — são substituídos. Porque o sistema assim exige.

❌ Não se trata apenas de uma questão de salário — embora esse também seja vergonhoso. Trata-se da ausência de uma política pública séria, estruturada, que valorize o professor como profissional essencial para a formação humana e intelectual do aluno. Trata-se de um projeto contínuo de esvaziamento da escola pública e de seu papel social.

A Secretaria de Estado da Educação de Santa Catarina não publica essa parte da história. Ela não fala do caos dos processos seletivos. Não assume a culpa por não garantir continuidade pedagógica. Não se responsabiliza pelo desmonte do magistério.
Ao contrário: permite que a culpa recaia, mais uma vez, sobre os professores — os mesmos que fazem o impossível todos os dias para manter de pé o que o Estado se esforça para desmontar.

E tudo isso é agravado por políticas públicas que beneficiam os ricos com dinheiro da educação básica, como no caso da Universidade Gratuita, onde recursos foram transferidos do ensino público fundamental para custear bolsas em instituições privadas de ensino superior.

📣 A escola pública não falha por culpa do professor. Ela falha porque querem que ela falhe.

Querem menos estudantes na universidade pública. Querem menos cidadãos críticos. Querem manter o povo distante do saber — e, assim, mais fácil de ser manipulado.
E enquanto isso, seguem os ataques. Mas aqui seguimos também — firmes, denunciando, resistindo, e dizendo o óbvio: o fracasso da escola pública é um projeto político.