Simulados em Santa Catarina: avaliação ou ilusão?

Florianópolis, 01 de setembro de 2025 - Segunda-feira.

Por: Prof. Adm. Esp. Jorge Lima Cardoso

Nos últimos anos, a Secretaria de Estado da Educação de Santa Catarina tem apostado na aplicação de simulados para estudantes do 5º e 9º anos do Ensino Fundamental e da 3ª série do Ensino Médio. A justificativa é clara: identificar fragilidades, preparar os alunos para avaliações de larga escala e alinhar o currículo da rede estadual às exigências nacionais. Na prática, no entanto, os simulados revelam muito mais sobre as contradições da educação catarinense do que sobre a aprendizagem dos estudantes.

Não se nega que avaliar é fundamental. Luckesi (2011) já lembrava que a avaliação deveria servir como diagnóstico e não apenas como mecanismo de classificação. Perrenoud (1999) reforçava que sua função deveria ser formativa, isto é, ajudar a ajustar o processo pedagógico em tempo real. Hoffmann (2014), por sua vez, insiste que avaliar é promover a aprendizagem e não punir o erro. Fernandes (2019) amplia essa perspectiva ao afirmar que a avaliação deve enfrentar os desafios contemporâneos, unindo teoria, prática e políticas públicas.

Essas iniciativas deveriam dialogar com a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017) e com os parâmetros do Sistema de Avaliação da Educação Básica – SAEB (BRASIL, 2023), mas em Santa Catarina a realidade ainda revela um abismo entre a teoria e a prática. Segundo dados recentes divulgados pela SED-SC (2025), os simulados buscam alinhar o currículo estadual às avaliações nacionais, mas, sem condições estruturais, o efeito acaba sendo limitado.

É fácil falar em resultados quando não se olha para a realidade das escolas. Falta infraestrutura tecnológica: laboratórios de informática sucateados, internet instável e equipamentos insuficientes. Falta valorização dos profissionais da educação, que além da sobrecarga de trabalho, enfrentam baixos salários e pouco reconhecimento. Falta, sobretudo, honestidade em admitir que os índices de aprovação muitas vezes não refletem a aprendizagem real, mas sim a pressão por atender a indicadores econômicos que servem mais à propaganda do governo do que ao futuro dos estudantes.

Enquanto os relatórios dos simulados apontam lacunas de conteúdo, a vida cotidiana dos alunos denuncia outras faltas: transporte escolar precário, turmas lotadas e condições sociais que impactam diretamente no desempenho. É nesse abismo entre o discurso oficial e a prática escolar que se instala a descrença dos professores e o desânimo dos estudantes.

Não se trata de rejeitar os simulados. Eles podem, sim, ser ferramentas úteis, desde que acompanhados de políticas estruturantes: investimento em infraestrutura, formação continuada para interpretação pedagógica dos dados, criação de projetos de reforço escolar e, principalmente, uma mudança de mentalidade. Avaliar não é maquiar números, é reconhecer desigualdades e propor caminhos de superação.

Santa Catarina precisa decidir se quer uma educação que se contenta em aplicar provas ou uma educação que se compromete de fato com a aprendizagem. Enquanto isso não acontecer, os simulados continuarão sendo apenas um espelho distorcido: mostram algo, mas escondem muito mais.

Referências

LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar. 22. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

PERRENOUD, Philippe. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens – entre duas lógicas. Porto Alegre: Artmed, 1999.

HOFFMANN, Jussara. Avaliar para promover: as setas do caminho. Porto Alegre: Mediação, 2014.

FERNANDES, Domingos. Avaliação das aprendizagens: desafios às teorias, práticas e políticas. Porto Alegre: Penso, 2019.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017.

BRASIL. Ministério da Educação. Sistema de Avaliação da Educação Básica – SAEB. Brasília: MEC, 2023.

SANTA CATARINA. Secretaria de Estado da Educação (SED-SC). SED-SC realiza segunda etapa dos simulados da rede estadual de ensino. Florianópolis: SED, 2025. Disponível em: <https://www.sed.sc.gov.br>. Acesso em: 31 ago. 2025.

 Sobre o autor:

Jorge Lima Cardoso é administrador e especialista com MBA em Gestão de Pessoas, Licenciatura para Educação Profissional e mais de 15 anos de experiência docente em cursos técnicos e ensino médio. Atua nas áreas de Administração, Contabilidade e Educação Profissional, com formação multidisciplinar e ampla trajetória no magistério.