Florianópolis, 21 de abril de 2025. 17h07
Por Eduardo Borges
Nova secretária de Educação de SC: o que esperar da nomeação de Luciane Ceretta?
A confirmação de Luciane Bisognin Ceretta como nova titular da Secretaria de Estado da Educação de Santa Catarina traz à tona uma série de expectativas — e também muitas interrogações — para os profissionais da rede pública estadual, especialmente os professores ACTs, que compõem uma das bases mais precarizadas do sistema educacional catarinense.
Com uma trajetória notável na educação superior, Ceretta tem um currículo robusto: três mandatos como reitora da Unesc, doutorado em Ciências da Saúde, quatro MBAs, oito especializações e uma extensa produção científica. Sua atuação de destaque em órgãos como o Conselho Estadual de Educação, o Conselho Nacional de Educação e a presidência da Acafe atesta sua influência no campo acadêmico. Contudo, será que esse perfil técnico e de gestão universitária comunitária será suficiente — ou mesmo adequado — para responder às urgências da educação básica pública catarinense?
A primeira pergunta que a categoria deve fazer é: que conhecimento Ceretta tem sobre a realidade das escolas públicas estaduais, onde professores temporários convivem com a instabilidade, a desvalorização e a sobrecarga de trabalho?
A atual gestão da SED tem sido marcada por uma série de problemas estruturais que se arrastam: escolas sem infraestrutura adequada, falta de profissionais efetivos, contratos precários, ausência de formação continuada, calendário pedagógico desrespeitado e a imposição de tarefas que ultrapassam a carga horária docente — como os famigerados sábados letivos e o "Dia da Família na Escola".
Ceretta irá romper com esse ciclo ou apenas dará continuidade a uma política de maquiagem institucional, típica da gestão Cimadon, onde se valorizava a propaganda em detrimento de ações efetivas?
Além disso, é necessário questionar o lugar que a nova secretária atribuirá ao diálogo com a categoria, sobretudo com os ACTs. Irá ela reconhecer que os temporários hoje representam boa parte do quadro da educação básica, exigindo políticas específicas de valorização, remuneração justa, direito à formação e condições dignas de trabalho? Ou sua gestão será mais uma a manter os ACTs na invisibilidade, enxergando-os apenas como “tampões” no sistema?
Outro ponto que exige atenção é a relação da nova secretária com o setor privado e comunitário. Sua trajetória está profundamente vinculada às universidades comunitárias, e embora estas sejam importantes, a dúvida permanece: irá ela defender uma educação pública, laica e gratuita ou abrir ainda mais espaço para a terceirização, as OSs e a precarização do serviço público?
Ceretta tem, sim, uma bagagem considerável e respeitável. Mas a gestão da Educação Básica estadual é um terreno distinto, repleto de desafios concretos e cotidianos. Terá disposição política para enfrentá-los? Irá dialogar com os profissionais da educação ou manterá a verticalidade e a distância burocrática que marcaram administrações anteriores?
A categoria precisa estar atenta e mobilizada. A nomeação de uma nova secretária pode representar uma oportunidade de mudança — ou apenas a continuidade de um modelo desgastado. O que não podemos mais aceitar é sermos tratados como números ou peças descartáveis de uma engrenagem que já opera em colapso.
A professora Luciane Ceretta ainda não disse a que veio. Mas nós, professores ACTs de Santa Catarina, já temos muito bem definido o que queremos ouvir — e principalmente, o que exigiremos dela.
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